Debate público nos EUA tem baixo nível na internet como no Brasil
Kennedy Alencar
Nova York
O debate eleitoral nos Estados Unidos tem aspectos semelhantes aos da discussão pública no Brasil. Eleitores do presidente Donald Trump e do senador Bernie Sanders são bastante ativos nas redes sociais.
Trump conta com uma milícia virtual parecida com a do presidente Jair Bolsonaro. Apoiadores do presidente americano fazem ataques baixos nas redes sociais, sobretudo a adversários políticos, jornalistas e veículos de comunicação.
Bernie Sanders é acusado por outros candidatos democratas de também se beneficiar de uma milícia virtual implacável contra seus concorrentes.
O bilionário Michael Bloomberg, que participa da disputa no Partido Democrata pela indicação presidencial, divulgou no Twitter um vídeo mostrando ataques de apoiadores de Bernie Sanders a adversários políticos. Foi uma reação às críticas de Sanders, que afirmou que Bloomberg tenta comprar a eleição. O bilionário já gastou mais de US$ 400 milhões _esse poder de fogo cria, obviamente, uma distorção eleitoral. Outros candidatos democratas também bateram em Bloomberg.
*
Na estrada
Nas viagens a Iowa e New Hampshire, encontrei eleitores de Bernie Sanders desconfiados com a imprensa. O establishment americano, inclusive boa parte da mídia, retrata o social-democrata Sanders como um perigoso socialista. Há uma relação tensa entre jornalistas e a campanha de Sanders.
Os apoiadores de Trump têm visão ainda mais dura sobre os jornalistas e os veículos de comunicação. O primeiro conselho que se recebe de um trumpista é deixar de levar em conta o que relata a imprensa “parcial e comunista”.
Bolsonaro copia no Brasil o que Trump faz nos Estados Unidos. Ambos buscam minar a credibilidade dos jornalistas e dos veículos de comunicação para abrir caminho a medidas autoritárias. Ambos são destruidores de instituições. Neste momento, Trump faz pressão para interferir nos rumos do Departamento de Justiça.
*
Nevada
A próxima rodada das prévias americanas acontecerá em Nevada, no próximo sábado, dia 22. Joe Biden, que foi vice-presidente de Barack Obama, perdeu a liderança para Bernie Sanders.
Nevada faz caucus, o que gera temores de novo fiasco na apuração, como aconteceu em Iowa. O caucus é uma prévia com assembleia de voto aberto e discussões entre eleitores que podem mudar de escolha. O processo sofre crítica por ser pouco democrático na comparação com a primária, prévia na qual o eleitor deposita seu voto na urna.
Com a divulgação de pesquisas nesta terça que apontam Bloomberg acima de 10%, o ex-prefeito de Nova York poderá participar do debate de amanhã em Las Vegas. Ele terá de sair da zona de conforto dos anúncios para enfrentar adversários motivados para questioná-lo.
*
Desprezível e inaceitável
A declaração criminosa do presidente Jair Bolsonaro a respeito da jornalista Patrícia Campos Mello não merece ser reproduzida neste espaço. Mas é importante deixar claro que o presidente da República cometeu dois crimes, comum e de responsabilidade. Ele agrediu a Constituição e o Código Penal.
É uma figura cruel, misógina e baixa. O Brasil não merecia isso. Nossa elite tem uma baita culpa no cartório por ter abraçado esse projeto desprezível de destruição do país. Essa elite normalizou Bolsonaro. É assim que as democracias morrem. É inaceitável o comportamento do presidente da República.
*
Pastoral Americana
Ouça abaixo o comentário feito hoje no “Jornal da CBN – 1ª Edição” sobre as eleições nos EUA:
Kennedy, debates que interessam, terão força na televisão, após a definição do oponente ao Trump. No fundo apoiadores digitais é novidade até no EUA; sempre haverá disputas, não deixa de ser saudável. Acredito numa boa contenda, quem não gosta esta sempre atrás das pesquisas.A questão desta jornalista da folha, precisa de esclarecimento comprovado; os envolvidos tem amplo direito a defesa; neste caso tudo ali me parece nebuloso. Tudo indica nos EUA, teremos novidades a favor do Bloomberg, resta ao Bernie a choradeira de praxe, não tem domínio eleitoral.