Fala de Guedes reflete naturalização do autoritarismo pelo governo
Kennedy Alencar
BRASÍLIA
A declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o AI-5 (Ato Institucional Número 5) não é mais uma das suas frequentes demonstrações de inabilidade política. É reflexo da naturalidade com o qual o governo Bolsonaro flerta com o autoritarismo.
Lá nos Estados Unidos, Guedes não se fez de rogado ao tratar o Brasil como uma república de bananas, reforçando a imagem negativa do país no exterior _uma marca da gestão Bolsonaro. Ao comentar o discurso de Lula que pediu povo na rua como no Chile, o ministro disse: “Não se assustem, então, se alguém pedir o AI-5”.
Segundo Guedes, “é irresponsável chamar alguém para a rua agora para fazer quebradeira”. Ora, Lula não chamou ninguém para “fazer quebradeira”. Numa democracia, é mais do que legítimo convocar manifestações de rua.
O próprio presidente Jair Bolsonaro e seus filhos políticos participaram de manifestações pelo impeachment de Dilma e estiveram à frente de vários atos nesse sentido. Em 2013, nas jornadas de junho e julho, houve manifestações sem necessidade de AI-5. Bolsonaro e Guedes têm dificuldade de conviver com a democracia.
Quando deputado e também na Presidência, Bolsonaro deu declarações de forte teor autoritário. Guedes viveu no Chile durante a era Pinochet e tem simpatia pelo modelo econômico de uma das ditaduras mais sanguinárias da América Latina.
A forma como Bolsonaro e Guedes se relacionam com o Congresso, com a imprensa e com os movimentos sociais é um exemplo claro de desapreço pela democracia. Nesse contexto, as reações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, foram necessárias.
Toffoli bateu certeiro: “O AI-5 é incompatível com a democracia. Não se constrói o futuro com experiências fracassadas do passado”. Maia disse que a fala de Guedes “gera uma insegurança na sociedade e principalmente nos investidores”.
Em nome da agenda dita liberal de Guedes, setores do empresariado e da imprensa fecham os olhos para seu comportamento antidemocrático e sua inabilidade para negociar com o Congresso. A agenda proposta por Guedes vai criar mais desigualdade social no Brasil. Para gerar empregos para jovens, ele foi capaz de cobrar um pedágio do seguro-desemprego. Essa é a cabeça do ministro da Economia.
O fato: Guedes é um ministro ruim que flerta com o autoritarismo como exercício do poder. É assim nas declarações inábeis. É assim nas ofensas, como fez relação à mulher de Emmanuel Macron, Brigitte. É assim na sua concepção de modelo econômico para o Brasil. A menção sobre AI-5 evoca o passado autoritário da América Latina.
A reação do presidente Jair Bolsonaro à fala de Guedes também foi negativa. Ele disse que falaria sobre AI-38, numa alusão ao número do partido que pretende criar, o neofascista “Aliança pelo Brasil”, e também ao calibre do mais conhecido revólver brasileiro.
Obviamente, o presidente não tratou seriamente um assunto sério. Fez troça. E o fez de modo autoritário e inconsequente, como tem sido a regra. O AI-5 deu início aos anos de chumbo na ditadura militar de 1964. Ouça o comentário abaixo: