Juízes federais fazem greve hipócrita e irrealista
KENNEDY ALENCAR
LONDRES
Além da controversa legalidade de greve de magistrados, a paralisação de ontem dos juízes federais mostrou desconexão com a sociedade e irrealismo fiscal.
A Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) fez um balanço. Segundo a entidade, houve adesão de 62% dos associados. O movimento foi convocado para defender o auxílio-moradia e reivindicar reajuste salarial de 40%.
Segundo alguns advogados e professores de direito, seria ilegal juiz fazer greve. Mas, mesmo que magistrados tivessem tal direito, as reivindicações são absurdas.
A defesa do auxílio-moradia, um penduricalho para ultrapassar o teto constitucional, não tem fundamento ético. Também é um pagamento controverso do ponto de vista legal _uma forma de descumprir o teto constitucional, como salário indireto, disfarçado.
O pior, porém, é invocar o combate à corrupção para defender esse privilégio, como se acabar com essa mordomia fosse uma perseguição ao trabalho dos juízes. É uma mistura de hipocrisia e esperteza usar esse argumento.
Justamente porque há um maior combate à corrupção no Brasil, a sociedade não tolera mais determinadas práticas. O combate à corrupção é um motivo a mais para acabar com o auxílio-moradia.
Aliás, será preciso acompanhar com lupa a decisão que o STF tomará na semana que vem a respeito desse assunto. Não pode resultar apenas num julgamento para restringir o auxílio-moradia, mas numa determinação para acabar com uma farra criada por liminar do ministro Luiz Fux. O Supremo não pode ceder ao pior tipo de corporativismo.
O pedido de reajuste de 40% não faz nenhum sentido. O atual salário já é fruto da incorporação de diversos penduricalhos feitos no governo Lula, mas a farra foi voltando ao longos dos anos.
Essa reivindicação é uma afronta à sociedade. Demonstra gula econômica. O Brasil vive enorme crise fiscal. Mais uma vez, uma parcela da elite, uma casta de funcionários públicos, comporta-se como se fosse dona do Estado, com direito a privilégios e mordomias.
Juízes não ganham pouco. Magistrados, com seus supersalários, são exemplos do patrimonialismo brasileiro. Gastos sociais importantes em saúde e educação sofreram queda. Falta dinheiro para políticas públicas destinadas aos mais pobres. Não há dinheiro sobrando para a educação e a saúde, mas os juízes querem ganhar mais. Em que país vivem esses magistrados?
A elite tem responsabilidade maior numa hora de crise. Deveria fazer sacrifícios em vez de defender o indefensável. Seria importante que vozes importantes, como as do juiz federal Sergio Moro e do procurador da República Deltan Dallagnol, fossem ouvidas a respeito disso. Afinal, os dois têm opinião sobre diversos assuntos e exercem uma liderança no Judiciário que é paralela à do STF.
Ontem, enquanto milhares de pessoas protestavam contra o assassinato da vereadora Marielle Franco e choravam a morte covarde dela, juízes federais se comportaram como Marias Antonietas, para usar uma definição adequada do jornalista Fernando Brito. Ontem foi realmente o dia da vergonha no Brasil, com privilegiados defendendo sem pudor os seus brioches, mas o país real era e é o de Marielle Franco.
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Resistir é preciso
Reações que culparam a vítima foram significativas nas redes sociais ao longo dia de ontem. Sempre são surpreendentes e assustadoras a falta de solidariedade em relação à dor alheia e a facilidade para agressões autoritárias e gratuitas. Essas coisas se tornaram comuns no Brasil.
Mas, num dia tão triste como o de ontem, houve motivo para encontrar alguma alegria: ver a reação de milhares de pessoas que foram às ruas para homenagear e honrar a vida e a luta de Marielle Franco. É preciso resistir em defesa da civilização, contra a barbárie que é do agrado de figuras execráveis da vida pública e dos pequenos fascistas que saíram do armário.
Ouça o comentário no “Jornal da CBN”:
Judiciario no Brasil se tornou um poder sujo, golpista e antinacional
Onde Vamos Parar…?!”Em que país vivem esses magistrados?” “Deveria fazer sacrifícios em vez de defender o indefensável”
Essa é a absurda realidade do Brasil. Realidade que infelizmente não se ver o fim nem com um Telescópio tipo o Hubble. Quanta individualidade de poderes.
Realmente esses juízes, magistrados, promotores e ministros são uma casta desprezível que vive em outro planeta. É inadmissível que numa hora e numa conjuntura dessa alguém tenha a pachorra de defender esses privilégios.
Esta coberto de razão, caro Kennedy, nada justifica; estamos sem dinheiro, precisando das reformas, esperando celeridade na Justiça…quando os Juízes tentam transformar um penduricalho caro como auxilio moradia, ou (covardia) em definitivo…tentar nos convencer, que o auxilio ajuda na defasagem salarial, é mais grave que o próprio beneficio…também acho, que se for para permitir, que seja regulamentado, para evitar excessos…falta lisura em todos os poderes, quando tratamos do erário público…
Olá bom dia! Gostaria que você fizesse uma correção, é os juízes e promotores não são funcionários públicos. O estatuto jurídico deles é ambíguo nesta parte e o que é certo é eles são agentes políticos e devido à esse status, eles tem privilégios e prerrogativas de cargo que os funcionários públicos (na verdade servidores) normais não possuem. Então, essa confusão só contribui para desqualificar o funcionário público perante a sociedade e esconder o verdadeiro problema.
LEI 8.112/1990 (dos funcionários públicos civis)
Lei Orgânica da Magistratura Nacional (juízes e promotores)
Conto com você para esclarecimento do público em geral, principalmente seus leitores. Obrigada.
Não podemos relaxar um minuto na defesa da vida, da liberdade de expressão, do respeito, da democracia e da igualdade. A luta de Marielle é nossa também, pois aqueles que querem um mundo pior, queles que pregam o ódio, não descansam nunca.
Boa tarde!
O texto sobre a greve dos juízes federais é perfeito e muito importante para combater os privilégios do judiciário. Eles continuam como pavão “não olham os pés”.
[…] Kennedy Alencar, no comentário matutino de hoje na CBN, reproduzido em seu blog: […]
“Seria importante que vozes importantes, como as do juiz federal Sergio Moro e do procurador da República Deltan Dallagnol, fossem ouvidas a respeito disso” Não entendi esta sua colocação: ambos já se manifestaram a favor dos penduricalhos…
prezados: querem saber a verdade: a elite (políticos, empresários, banqueiros, juízes), em regra, estão “ca_ _ _ do” para o povo.
Kennedy, que bom que ainda existem jornalistas dignos como você, com a sensibilidade crítica e a responsabilidade histórica para tocar – com coragem e isenção – as questões decisivas que atravessam o país. Especialmente em tempos fascistas e de silenciamento das vozes, é um feito muito admirável. Todo o meu respeito.
Realmente é um absurdo greve por mais salários, com um ótimo e gordo salário, ainda brigam por mais o auxilio moradia, mesmo tendo residencia própria. É muita regalia, tem veículos, segurança e moradia de graça. Isso tem que acabar tanto para os juízes como para os políticos que também usufruem desse direito injusto. É muita regalia para poucos e para maioria dos cidadãos nada. Tudo o que se precisa usar a seu favor não se tem direito. Quantos estão morrendo nessa guerra no Rio de Janeiro. Essa intervenção só serve mesmo para gastar mais. Infelizmente esse é o Brasil atual, cheio de injustiças.
Saiu uma pesquisa dizendo que 92% dos brasileiros recebem de salário valor menor que o auxílio-moradia recebido pelos juízes e procuradores. É por isso que vimos vários cartazes nas manifestações dizendo: “TROCO MEU SALÁRIO POR UM AUXÍLIO-MORADIA DOS JUÍZES”.
Cortaram o dia de trabalho dos reizinhos?
Nosso Judiciário é a nova nobreza. Precisamos colocá-lo em uma bastilha.
As injustiças sociais são a raiz das convulsões sociais e quanto mais a elite dominante se distancia da maioria da população, mais cega vai ficando em relação ao risco que corre por não querer uma divisão justa do gozo e da dor.