Sem base formal no Congresso, Bolsonaro tropeça no Senado
Kennedy Alencar
BRASÍLIA
A desidratação de R$ 76 bilhões na reforma da Previdência, que ocorreu ontem no Senado, é sintoma da falta de uma base política formal do governo Bolsonaro no Congresso.
No presidencialismo brasileiro, governar sem coalizão azeitada leva a riscos desse tipo. O plenário do Senado aprovou o texto-base que significava uma economia de R$ 876 bilhões em dez anos. Num destaque, a oposição mudou corretamente a regra sobre abono salarial e abaixou o valor da reforma para os R$ 800 bilhões, cifra que era o desejo majoritário do Congresso.
Não está sendo aprovada a reforma do presidente Jair Bolsonaro nem a do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas a do Congresso Nacional. A fixação da idade mínima já estava na proposta do governo Temer, que poderia ter sido implementada há três anos.
O Senado também enviou um recado, sinalizando que só votará o segundo turno da reforma previdenciária quando quiser. Está cobrando faturas da política de Bolsonaro.
O presidente da República não sabe governar nem mostra desejo de aprender. Há uma fábrica de crises no Palácio do Planalto que contribui para a lenta recuperação da economia brasileira.
Com um cenário internacional nebuloso, será mais difícil o país crescer. Bolsonaro é responsável por dificultar a recuperação econômica, com declarações diárias que são percebidas por parte da população como inapropriadas para um presidente, como já mostrou pesquisa Datafolha. Essas declarações também abalam a imagem do país no exterior e a confiança dos investidores.
Ouça o comentário a partir dos 7 minutos e 45 segundos no áudio no fim deste texto.
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Sinal de submissão
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o novo procurador-geral da República, Augusto Aras, endossou a teoria conspiratória de Bolsonaro sobre Adélio Bispo, que o esfaqueou em 6 de setembro de 2018. A Polícia Federal já investigou e concluiu que Bispo tem problema mental e agiu sozinho.
Aras demonstra submissão a uma jogada política do presidente para manipular a opinião pública. Começou mal ao falar em reabrir um caso já esclarecido pela PF chefiada hoje pelo ministro da Justiça, Sergio Moro.
Outro erro de Aras: “Não concebemos um Ministério Público contrário à nossa cultura judaico-cristão”, disse em cerimônia no Palácio do Planalto ao lado de Bolsonaro. Ora, na sabatina no Senado, ele afirmou que o Estado brasileiro é laico. Parece que o novo PGR fala o que a plateia da ocasião quer escutar. Ouça este comentário a partir dos 6 minutos no áudio abaixo:
[…] Do blog de Kennedy Alencar: […]
[…] Fonte: Sem base formal no Congresso, Bolsonaro tropeça no Senado […]
Kennedy, não terá problemas, pelo menos com a previdência, precisa de maior articulação, o que pretende agora, com seu estado de saúde restabelecido, atua diretamente com os parlamentares, o que deve melhorar; continuará a negociar condições, acontecerá o inevitável, terão que conviver juntos, mesmo que hajam pequenas concessões como terceiros e quartos escalões; importante são as aprovações, para o emprego voltar o mais rápido possível…